A caça de animais silvestres é uma prática milenar que desempenha um importante papel na segurança alimentar e nutricional de milhões de pessoas, especialmente em regiões tropicais, onde muitas vezes representa a principal, ou até única, fonte de proteína animal para diversas famílias. Mediante isso, objetivou-se: (I) identificar o panorama das pesquisas sobre a caça urbana, incluindo o consumo de carne de caça, técnicas e tecnologias; (II) investigar as motivações, a influência de fatores socioeconômicos, as espécies-alvo e as técnicas de caça utilizadas entre caçadores do ambiente rural e urbano no município de São Gonçalo do Amarante, Norte-Cearense; (III) elaborar uma cartilha educativa sobre a fauna cinegética da Caatinga, destacando espécies, os impactos das mudanças climáticas e sua relação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A dissertação está organizada em dois artigos. O Artigo 1 aborda o primeiro objetivo e reúne 23 estudos sobre a caça urbana e periurbana no Brasil, analisando suas motivações, as técnicas empregadas, os impactos do consumo de carne de caça e o papel das tecnologias modernas. A pesquisa foi realizada por meio de uma revisão bibliográfica em bases de dados como Google Acadêmico, Science Direct, Scopus, Web of Science e Portal CAPES, englobando publicações entre 2014 e 2024. Os resultados dessa análise indicam predominância de publicações especialmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, que o consumo de carne silvestre em centros urbanos se intensificou, impulsionado por fatores socioeconômicos, culturais e pela expansão do mercado informal, trazendo desafios à conservação da biodiversidade e à saúde pública. O Artigo 2 concentra-se no segundo objetivo e apresenta os resultados de uma pesquisa de campo realizada com 74 caçadores maiores de 18 anos, aplicando formulários semiestruturados. Os resultados indicam que 58,10% dos participantes residem na zona rural e têm entre 26 e 35 anos. A maioria dos entrevistados (57 caçadores) começou a caçar desde a infância, utilizando técnicas como o uso de cães (n=59), espingardas (n=19), gaiolas (n=7) e arapucas (n=4). Além disso, 79,70% dos entrevistados indicaram que a principal motivação para participar de competições de caça, como o bolão-de-rancho, é a recompensa financeira. Quanto às espécies caçadas, destacaram-se sete mamíferos, 20 aves e três répteis. O consumo de carne de caça é motivado, principalmente, pelo sabor (81,10%). Com base nesses resultados, recomenda-se a implementação de políticas públicas voltadas para a conservação e manejo sustentável da fauna silvestre, considerando os aspectos socioeconômicos e culturais que moldam a prática de caça, a fim de promover a sustentabilidade e a preservação dos recursos naturais na região.